O cacique Damião Paridzané, investigado pela Polícia Federal por suspeita de receber dinheiro em troca da concessão ilegal de áreas indígenas à fazendeiros, é um dos principais líderes citados e premiados na história da luta do povo Xavante para a reconquista da Terra Indígena Marãiwatsédé e expulsão de não indígenas da área. A defesa do cacique informou que vai se manifestar depois que analisar o processo.
Nesta quinta-feira (17), o cacique teve uma caminhonete SW4 apreendida na Operação Res Capta, que teria recebido em troca do arrendamento de terras. Damião também é suspeito de receber R$ 900 mil por mês para autorizar fazendeiros a entrarem na terra.
O cacique já foi homenageado na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), durante o XI Seminário de Educação (Semiedu 2013), sendo reconhecido como ‘lutador’ dos povos indígenas.
Logo depois, em Brasília, ele ganhou um reconhecimento na 20ª edição do Prêmio de
Direitos Humanos. Na ocasião, o líder indígena recebeu um troféu por “nunca ter negociado com fazendeiros e políticos, e sempre afirmar: ‘eu só preciso da terra”.
Damião Paridzané é visto pela comunidade Xavante como a principal liderança na luta pelo território indígena.
Tudo começou quando ele ainda era adolescente e, junto com quase 300 pessoas, foi retirado do território Xavante Marãiwatsédé, localizado entre os municípios de Alto Boa Vista, Bom Jesus do Araguaia e São Félix do Araguaia, e levado à Missão Salesiana de São Marcos, na aldeia que leva o mesmo o nome.
Um trabalho de pesquisa feito pelo estudante Lázaro Tserenhemmewe Tserenhitomo, na Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), em 2016, conta a história de Damião.
Em 1966, um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) fez a transferência dos xavantes para uma nova aldeia, a São Marcos. No local, Damião foi separado dos pai e permaneceu em um internato, onde permaneceu até se casar.
Depois desse período, ainda viveu 10 anos na aldeia até decidir, em 1977, ir atrás do povo de Marãiwatsédé que estava na Terra Indígena Couto Magalhães.
Conforme o estudo feito por Lázaro, entre 1979 e 1980, Damião lutou politicamente pela primeira vez junto do seu povo, tirando fazendeiros invasores da área. Depois da luta de retirada dos fazendeiros, conseguiu junto a outras lideranças a homologação da TI Parabubure.
Já em 1981, Damião Paridzané passou a ser cacique pela primeira vez e começou a viajar à cidade, principalmente para Nova Xavantina, na sede da Fundação Nacional do Índio (Funai).
No ano de 1984, ele se mudou para Terra Indígena Pimentel Barbosa, devido a um conflito entre os Xavante de Areões.
Recuperação da terra
De acordo com o estudo, em Pimentel Barbosa, durante três anos, os xavantes daquela região falavam que o povo de Marãiwatsédé não tinha terra própria e eram discriminados. Isso fez com que o cacique procurasse descobrir quem tinha vendido a terra Marãiwatsédé e expulsado seu povo para aldeia São Marcos.
“As comunidades da TI Pimentel Barbosa resolveram fundar a aldeia Água Branca naquela mesma terra indígena. Parte do povo Xavante de Marãiwatsédé que se encontrava disperso em outras terras como a de São Marcos e Sangradouro também se deslocou para a aldeia Água Branca, após a sua fundação”, conta Lázaro na pesquisa.
1988 - Damião foi a Brasília se reunir com o então presidente da Funai, Claudio Romero, para pedir ajuda para localizar o documento da terra;
1990 - Houve a publicação do Dossiê Itália-Brasil que divulgou a história Xavante, que estava sobreposta a fazenda Suiá-Missu e possuía investimentos da Agip Petroil da Itália;
1992 – Formou-se um grupo de trabalho da Funai para identificação e delimitação da TI Marãiwatsédé. Damião e um grupo de 15 Xavantes participaram do trabalho e identificaram que a maior parte da terra estava ocupada pela fazenda Suiá-Missu e o restante por pequenos agricultores;
1998 - A homologação da TI aconteceu em 1998, após reunião com o então presidente Fernando Henrique.
De volta à terra
Segundo os estudos feitos na Unemat, o processo de volta ao território de origem iniciou em 2003.
“Ao chegar a seu território, tudo estava desmatado. Os invasores, fazendeiros e posseiros, permaneceram acampados fazendo barreira na BR-158 para os Xavantes não passarem direto, porque eles não queriam. Então, o Damião acampou também, junto da sua comunidade, ele tentou o apoio da Justiça, entraram em uma porção diminuta do território e fundaram a aldeia Marãiwatsédé”, diz em trecho da história.
Damião Paridzané também esteve presente na Câmara dos Deputados e recebeu a notícia de que a desintrusão da Terra Indígena Marãiwatsédé foi determinada pelo Supremo Tribunal Federal, em outubro de 2012.
O cacique reivindicou junto ao Ministro da Defesa o apoio da Polícia Federal juntamente com o Exército Brasileiro e a Força Nacional. Assim, a Terra Marãiwatsédé foi declarada de ocupação tradicional
Fonte: folhamax
Autor: G1-MT