Fui obrigado a desistir para estar vivo hoje, afirma Maurício Santos, ex-aluno do Corpo de Bombeiros que acusa a tenente Izadora Ledur de tortura durante treinamento. A denúncia contra a oficial foi encaminhada pelo Ministério Público Estadual (MPE) à 11ª Vara Criminal de Justiça Militar e ainda aguarda decisão sobre o acolhimento ou não para prosseguir com o processo.
Maurício testemunhou na ação referente a morte do soldado Rodrigo Claro, morto após sofrer maus tratos por parte da tenente. Com dificuldade para nadar durante curso de salvamento aquático, ele foi afogado pela treinadora por várias vezes até passar mal e abandonar o curso.
Vomitando e com fortes dores de cabeça, Rodrigo foi até o quartel do Corpo de Bombeiros e depois buscou ajuda médica. Ele foi internado e morreu 5 dias depois. O laudo apontou rompimento de veia no cérebro. Maurício afirma que também sofreu com os “caldos” durante curso. Mesmo implorando para que a oficial parasse, ele não cessou as agressões e impediu que os colegas o ajudassem.
“Fui obrigado a desistir para estar vivo hoje. Afinal de contas, era pra eu ter morrido nas mãos da Ledur e não o Rodrigo Claro. Tive que sair faltando um mês pra terminar o curso, porque estava ‘prometido’ no campo final”, argumenta o jovem. O rapaz era de turma anterior a de Rodrigo. Quando soldado falecido chegou ao curso, Maurício já estava saindo.
A reportagen Maurício conta que quando se mudou do Rio Grande do Sul para Mato Grosso e integrar o Corpo de Bombeiros se tornou um sonho. Ajudar pessoas e salvar vidas era o que o motivava quando entrou para o curso de formação.
“Eu acompanhava a rotina, salvamentos, cheguei a trabalhar nos Bombeiros em Sorriso, como brigadista, conheci o trabalho de todos de perto. Muitos anos antes do concurso era algo que queria demais”, relata.
Por conta de todas as agressões, ele priorizou a vida em detrimento do sonho e deixou a carreira militar para trás. Tantos episódios aterrorizantes geraram no rapaz depressão, crises de ansiedade e pânico. Longe da corporação, Maurício se formou no curso de Gestão de Recursos Humanos. Agora ele é estudante da pós-graduação de Psicologia Organizacional e trabalha na área.
Para cuidar da saúde mental, Maurício havia parado de acompanhar o processo que movia contra a oficial. Após a sentença de um ano de prisão pela morte de Rodrigo e após a morte do pai de Rodrigo, Antônio Claro, o ex-bombeiro se sentiu ainda mais desmotivado em relação ao processo.
O paid e Rodrigo Claro também era bombeiro e foi afastado da função após a morte do filho. Antônio teve sérios transtornos psicológicos e tomava remédios. Em dezembro de 2021 morreu afogado em uma caixa d’água.
“Foi o desgosto que o matou. Eu acompanhei tudo o que passaram todo esse tempo. Ele e a mãe de Rodrigo, enquanto não aconteceu nada com a Ledur. Ela continuou na função, recebendo salário não houve nenhuma punição. Eu tenho esperança que ela seja punição, mesmo sabendo do desfecho do caso do Rodrigo”, declara Maurício.
O jovem conta que retomou o acompanhamento processual, spós a denúncia feita pelo MPE.
Fonte: gazetadigital
Autor: Jessica Bachega Foto Chico Ferreira