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30 de Janeiro de 2022

IMUNIZAÇÃO EM MT Nunca peguei Covid se peguei não senti nada, diz 1ª vacinada

IMUNIZAÇÃO EM MT Nunca peguei Covid se peguei não senti nada, diz 1ª vacinada

Foi com uma ligação que a técnica de enfermagem Luiza Batista de Almeida Silva, de 44 anos, recebeu um convite para se imunizar contra a Covid-19, doença que ela via matando pacientes que acompanhava diariamente. Sem hesitar, a técnica aceitou na hora. 

 

O marco da vacinação em Mato Grosso foi registrado na noite de segunda-feira, 18 de janeiro de 2020. Luiza foi a primeira pessoa vacinada no Estado. Na semana passada, o fato completou um ano.

Ela recebeu o imunizante da Coronavac e deu a largada para a vacinação no Estado. 

Se falassem para mim ‘Luiza, você quer tomar a vacina?’. Eu tomaria de novo. Eu seria novamente a primeira a tomar. Eu confio, acredito, que ela imuniza”, disse a profissional da saúde .

Um ano depois, Mato Grosso chega a 72% da cobertura vacinal completa, de acordo com ranking da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MT). A imunização reduziu mortes e desafogou a superlotação dos hospitais, que chegaram a ficar sem leitos de UTIs para atender a população. 

 

Se falassem para mim ‘Luiza, você quer tomar a vacina?’. Eu tomaria de novo

Embora a contaminação tenha voltado a registrar alta por conta da variante Ômicron, com números acima de 3 mil contaminados em 24 horas, Mato Grosso ficou dias sem óbitos e com o nível mais baixo de hospitalização que no auge da segunda onda.

 

Por trabalhar no atendimento direto com pessoas contaminadas com Covid, Luiza disse que a vacina a ajudou a não se infectar, ou pelo menos não sentir os efeitos da doença. 

 

“Eu nunca peguei a Covid, não peguei essa Influenza, nem nada, graças a Deus. Ou eu peguei e não senti nenhum sintoma. É quase que impossível por estar na linha de frente, conversando com paciente, abraçando paciente contaminado, eu não ter pego?”, disse.

 

Em 2020, 7.511 profissionais da saúde foram contaminados pela Covid no Estado. No ano seguinte foram 5.930.

 

Mas até chegar finalmente àquele 18 de janeiro de 2021, ela enfrentou o pior das consequências da doença nas unidades de saúde que trabalhou. 

 

Do enfrentamento ao grande dia

 

À época, Luiza trabalhava no Hospital Metropolitano de Várzea Grande e na Unidade de Pronto Atendimento (UPA), no Bairro Morada do Ouro, em Cuiabá. Revezando, ela fazia plantão a cada dia em um local.

 

Desde o início da pandemia, ela atua na linha de frente, atendendo pacientes em situação grave. Além dos cuidados da profissão, como observar os sinais do paciente, a evolução da doença, administração de medicamentos e outros, ela afirmou que o cuidado passava também pelo pessoal, de acompanhante, já que não é permitido ficar ninguém da família no hospital. 

Quando nos deixou triste, arrasada, que a gente saia com a sensação de impotência, foi no momento da lotação

 

Com o avanço da pandemia, ela assistiu aos casos aumentarem e o hospital ficar cada vez mais lotado. 

 

“Do começo ao fim foi um período difícil, mas quando nos deixou triste, arrasada, que a gente saia com a sensação de impotência, foi no momento da lotação, quando os pacientes que estavam na enfermaria e precisavam de uma UTI e não tinha”, afirmou.

 

Ela lembrou que quando os pacientes vão para a UTI e são intubados, o tempo de recuperação é longo e pode durar meses. Com a crescente chegada de pacientes, rapidamente os hospitais ficaram lotados e os profissionais da saúde mais pressionados.

 

Ao perceber que a pandemia estava se agravando e os hospitais mais lotados, bateu o desespero.

 

“O que senti, ou nós da linha de frente, foi insegurança, porque a gente ainda não sabia lidar. Por mais que a gente tenha capacitação e treinamentos, é diferente quando recebe o paciente. Porque cada paciente reage de maneira diferente. Então, era tudo novo, era o medo de ‘será que vamos dar conta?’”, disse.

 

“Mas tivemos que deixar tudo isso de lado e ir para frente. Mesmo com medo de morrer, porque muitos pegaram e a gente entrou em desespero também. Então foi uma luta que jamais imaginei que poderia passar”, afirmou. 

 

O respiro para o sistema de saúde iria mudar com a vacinação e o maior cuidado das pessoas para evitar a disseminação do vírus. 

 

A Coronavac foi aprovada para uso emergencial no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no domingo, 17 de janeiro de 2021. Poucos depois, a primeira pessoa foi vacinada no Brasil, a enfermeira Monica Calazans, no Estado de São Paulo. 

 

Símbolo em MT

 

Um dia depois chegaria a vez de Luiza. Ligaram do trabalho para ela e logo aceitou. Mas o que ela não sabia é que se tornaria um símbolo da imunização no Estado.

Arquivo

Luiza Batista de Almeida Silva

Luiza Batista, aos 44 anos, visualiza no trabalho o efeito da vacina

 

O primeiro lote de vacinas contra a Covid tinha acabado de chegar no Estado e as primeiras 65,7 mil doses estavam sendo distribuídas nos municípios. 

 

O ato simbólico contou com a presença do governador Mauro Mendes, da primeira-dama Virginia Mendes, do secretário de Saúde, Gilberto Figueiredo, da imprensa e outras autoridades. 

 

Luiza foi a primeira pessoa a receber a vacina contra a Covid-19 em Mato Grosso. 

 

“Para ser bem sincera, sou muito difícil assistir TV, então não sabia sobre isso [a repercussão]. Na hora que me chamaram, falei ‘tudo bem’, aceitei numa boa. Mas não imaginava que seria assim, com o governador, com jornalistas, não imaginei”. 

 

"Tomaria de novo"

 

Uma ano depois, ela continua sem dúvida, se tivesse outra oportunidade “tomaria de novo”, conta.

 

Ela disse entender que, assim como apontam os estudos científicos, a vacina pode não proteger 100% de ser contaminada, mas garante uma reforço de anticorpos no corpo.

 

“Quando tomamos a vacina temos uma defesa dentro da gente. Mesmo quando tem variações do vírus, quando a gente vacina, temos uma defesa para lutar”, explicou.

 

Luiza já tomou as duas doses da vacina e a dose de reforço. “Estou querendo tomar até de quem não está querendo”, brincou.

 

“O que digo às pessoas é o seguinte: se aquelas pessoas que estão intubadas tivessem a oportunidade, iriam querer tomar. Aquelas pessoas que morreram antes mesmo de surgir a vacina, tenho certeza que escolheriam  tomar. A vacina é eficaz, ajuda sim”. 

 

Rumos atuais

 

Atualmente, Luiza está trabalhando apenas no Hospital Metropolitano e está nos últimos semestre da faculdade de enfermagem. 

 

Ela espera ansiosa para, em breve, ser considerada enfermeira. “Sou muito feliz, sou apaixonada pela minha profissão”, contou.

 

Enquanto a conclusão do curso não chega, ela já pode esperar por outro alívio: a vacina da filha. “Eu tenho uma filha de oito anos e já fiz o cadastro dela. Ela vai tomar a vacina também", completou.

Fonte: midianews

Autor: DAVI VITTORAZZI DA REDAÇÃO FOTO Marcos Vergueiro/Secom-MT