Resultado, amplamente comemorado pelo governo, apontava para a criação de 142.690 postos com carteira assinada no ano passado
Diferentemente daquilo que anunciou o ministro da Economia, Paulo Guedes, com muita comemoração, em janeiro, o Brasil demitiu mais do que contratou em 2020. Uma nova atualização do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) aponta que foram cortados 191.502 postos de trabalho com carteira assinada ao longo de todo o ano passado, ante 142.690 novas vagas anunciadas inicialmente.
A revisão é fruto de um número 5,24% maior de demissões (de 15.023.531 para 15.810.926) e apenas 3% superior de admissões (de 15.023.531 para 15.619.434). A diferença, no entanto, pode subir ainda mais, já que os dados podem ser atualizados dentro de um período de 12 meses, de acordo com o Ministério do Trabalho e Previdência Social.
A grande notícia para nós é que, em um ano terrível em que o PIB caiu 4,5%, nós criamos 142 mil novos empregos”, comemorou Paulo Guedes ao divulgar os dados do Caged, no dia 28 de janeiro. Ele atribuiu o resultado positivo ao BEm (Benefício Emergencial para Preservação do Emprego e da Renda), criado para limitar as demissões durante a pandemia do novo coronavírus.
Em novembro, um volume de contratações formais 46,75% inferior ao divulgado inicialmente pelo governo, o que representava uma redução de 75.983 postos formais de trabalho e derrubava pela metade o volume de vagas criadas com carteira assinada.
Na ocasião, Guedes minimizou os dados revisados. "Não há mudança relevante em criar 50 mil postos de trabalho a menos", afirmou ao enfatizar que o Brasil teria criado 3 milhões de empregos desde o início da pandemia. Ele disse ainda que o "erro do Caged não é culpa do governo" e são frutos de uma atualização de dados represados.
A maior discrepância registrada entre os dados divulgados e atualizados de 2020 segue sendo a do mês de junho. No entanto, a diferença passou dos 177,2%, apurado em novembro, para 386,7%. No período, foi comunicado que o Brasil havia cortado 10.984 postos formais de trabalho, mas, na verdade, a perda foi ainda maior, de 53.456 vagas.
Em termos absolutos, a principal diferença segue contabilizada no mês de abril, quando ocorreram 981.832 demissões a mais do que contratações com carteira assinada, número que traz 121.329 mais perdas em relação aos 860.503 cortes inicialmente anunciados.
A nova atualização aponta ainda que, diferentemente do que mostravam os dados anteriores, o número de demissões só não foi maior do que o de admissões em janeiro e fevereiro, os dois últimos meses sem o impacto da pandemia do novo coronavírus na economia.
Diante das revisões, é possível também afirmar que todas as atualizações trazem dados mais negativos do que os inicialmente informados e aqueles identificados em novembro. Outro fato que chama atenção são as alterações no saldo de empregos nos meses iniciais de 2020, já que o prazo máximo estipulado para as revisões é de 12 meses.
“Revisões de bases de dados são naturais, ainda mais em contextos de transição ou de situações atípicas como a de uma pandemia, sendo realizadas por diversos órgãos e institutos de estatísticas no mundo todo”, afirma o Ministério do Trabalho e Previdência Social, em nota enviada ao R7.
De acordo com a pasta, os ajustes “elevaram tanto as movimentações de admissões como as de desligamentos” e “não invalidam a trajetória de recuperação do emprego formal desde o segundo semestre do ano passado”.
“Assim, sendo de julho de 2020 a outubro de 2021 foram gerados 3,8 milhões de empregos formais, já com todos os ajustes citados na nota. Além disso, entre janeiro de 2021 e outubro do mesmo ano foram gerados 2.645.974 postos de trabalho”, afirma o documento, que não comenta as revisões realizadas após o período de 12 meses.
Fonte: R7