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16 de Maio de 2021

Tipo de câncer de Covas é associado a inflamação por excesso de peso

Tipo de câncer de Covas é associado a inflamação por excesso de peso

Morto neste domingo (16) às 8h20, aos 41 anos, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, lutou durante mais de um ano e meio contra um câncer inicialmente identificado na cárdia, região de transição entre o esôfago e o estômago. 

O excesso de peso pode ter sido um dos fatores que contribuíram para o surgimento do tumor - Covas tem histórico de obesidade. Bruno Covas estava sob os cuidados das equipes médicas coordenadas pelo Prof. Dr. David Uip, Dr. Artur Katz, Dr. Tulio Eduardo Flesch Pfiffer, Prof. Dr. Raul Cutait e Prof. Dr. Roberto Kalil.

O boletim, divulgado pela assessoria de imprensa da prefeitura, foi assinada pelo Diretor de Governança Clínica do Hospital Sírio-Libanês, Luiz Francisco Cardoso, e pelo diretor clínico, Ângelo Fernandez.

Segundo a oncologista Ignez Braghiroli, da diretoria da SBOC (Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica) e coordenadora do Comitê de Tumores Gastrointestinais, esse tipo de câncer está relacionado a inflamações crônicas causadas pelo excesso de peso.

“O tumor justamente nessa transição entre o esôfago e o estômago está muito relacionado à obesidade e à doença do refluxo, porque [esses fatores] geram uma inflamação do esôfago que é fator de risco para a formação de tumores”, afirma.

 

Em 2017, o político mudou drasticamente a alimentação e encarou uma dieta que o fez perder cerca de 20 kg. A especialista destaca a importância de bons hábitos alimentares para evitar casos de câncer gástrico. 

“Por isso falamos de educação alimentar para diminuir o sobrepeso e justamente diminuir essa inflamação que, em última instância, também diminui as chances de evoluir para um câncer maligno”, explica.

Além disso, a oncologista destaca que o diagnóstico tardio pode contribuir para que tumores malignos no trato digestivo sejam mais agressivos em pessoas com menos de 50 anos.

A demora na identificação do câncer, inclusive, pode facilitar a ocorrência de metástase, quando o tumor se espalha para outros órgãos e regiões do corpo.

No caso de Covas, quando o problema foi identificado, há menos de dois anos, a doença já havia atingido os linfonodos do fígado e, recentemente, se espalhou para os ossos e para o próprio fígado.

No começo deste mês, ele foi internado e chegou a ser intubado após os médicos detectarem um sangramento no local do primeiro tumor. 

“Não acho que [a agressividade] seja somente pelo diagnóstico tardio, mas certamente esse é um fator que contribui para isso. Se a pessoa tem um sintoma de refluxo, o que é muito comum, é muito menos provável que o médico pense em uma doença maligna, até pela raridade em pessoas mais jovens”, avalia a médica..

A identificação tardia do câncer pode impedir, inclusive, uma intervenção cirúrgica capaz de reduzir sua gravidade. Isso porque, segundo explica Ignez, quando ocorre metástase é mais difícil fazer a cirurgia para a retirada do tumor.

“Não é que é impossível fazer a cirurgia quando o tumor já saiu de onde nasceu, pode ser que a pessoa tenha uma doença muito lenta e, nesses casos, podemos tentar a cirurgia como uma opção. Infelizmente não é assim com a maioria das pessoas. [Se identificado na fase inicial] eventualmente começamos com a quimio, fazemos a cirurgia e mais um pouco de quimio”, explica.

De acordo com a especialista, o avanço rápido do câncer mesmo durante o tratamento, como no caso do prefeito, faz parte da evolução natural de um tumor maligno no estômago, sobretudo quando há metástase.

“A quimio não tem o poder, exceto em raras exceções, de fazer com que essa doença vá embora completamente, então esta não é uma evolução inesperada. É muito variável de pessoa para pessoa, mas a tendência é que essa doença vá crescendo. Infelizmente não é algo que a gente consiga controlar ainda”, afirma.

A oncologista ressalta que, em alguns casos, o paciente diagnosticado com câncer gástrico consegue conviver com a doença de forma controlada, até mesmo sem a necessidade de realizar quimioterapia, mas que essa não é a regra entre pacientes oncológicos deste tipo.

“Tenho um paciente que, há dois anos, não precisa fazer quimio, a doença está parada no intestino. Mas no geral essa não é a regra, o tumor é mais agressivo, tende a ir crescendo, melhora com a quimio, mas depois de um tempo volta a crescer e é preciso voltar com o tratamento”, afirma.

Fonte: R7

Autor: NILTON FUKUDA/ESTADÃO CONTEÚDO