O histórico de conversas no celular do tenente-coronel Mauro Cid, antigo ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, revelou o uso de dinheiro vivo para o pagamento das contas pessoais de Michelle Bolsonaro, sem registros da origem do dinheiro.
O tamanho do roubo condena ou absolve o ladrão? Na cultura popular brasileira, os sujeitos que roubam pouca coisa, o chamado ladrão de galinha, ou os sujeitos que roubam para comer, em situação social miserável, são perdoados pelo povo, acreditando que o julgamento popular é referendado pela justiça divina: Deus perdoa. Essa crença é apropriada cinicamente, por exemplo, no milagre da transformação do político ladrão no bom ladrão, aquele que "rouba mas faz". Vamos respeitar: Deus está cansado de perdoar os crimes pequenos de gente grande e poderosa da política brasileira.
Na gestão pública, o roubo de coisas pequenas não qualifica o ladrão. O crime do uso do poder público para interesses pessoais, definitivamente, não é gradiente. Muito ou pouco, simplesmente não pode ser aceito porque se trata de dinheiro público, de impostos pagos pelo povo. É imoral e ilegal fazer usufruto das coisas públicas para benesses pessoais.
Os episódios de denúncias envolvendo a família Bolsonaro passam pela ideia de que o pequeno roubo é permitido, o uso do poder do estado em benefício próprio pode ser utilizado desde que "com moderação", conforme diz o informe publicitário sobre os anúncios de bebida alcóolica. Esse é o mote bolsonarista quando coteja a comparação com os roubos denunciados durante a gestão do PT no governo: "afinal, o que é uma rachadinha em comparação com os bilhões roubados da Petrobrás"? É roubo igual, agravado, no caso da família Bolsonaro, pela condição de se achar mais esperta do que o cidadão que paga os impostos e achar, no puro deboche, que faz parte da elite política com o direito, popular e divino, de usar a coisa pública para seus interesses particulares, desde que “com moderação”: roubo de gasolina da Câmara Federal; rachadinhas; farra no cartão corporativo da União; tentativa de apropriação de joias milionárias do acervo do país, adulteração do cartão de vacinação da Covid-19 e outros crimes de pequena monta.
Os episódios de denúncias envolvendo a família Bolsonaro passam pela ideia de que o pequeno roubo é permitido
No novo escândalo envolvendo a família Bolsonaro, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro é personagem central de um inquérito policial que investiga as ações criminosas do ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid. O oficial do Exército acusado de ser o serviçal dos arranjos do dinheiro público, da coisa pública, para atender aos interesses da mulher do Mito.
A matéria do site Congresso em Foco:
INQUÉRITO POLICIAL
CONTAS DE MICHELLE BOLSONARO FORAM PAGAS EM DINHEIRO VIVO POR MAURO CID
O histórico de conversas no celular do tenente-coronel Mauro Cid, antigo ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, revelou o uso de dinheiro vivo para o pagamento das contas pessoais de Michelle Bolsonaro, sem registros da origem desse dinheiro. A ex-primeira dama também não vinculava as despesas ao seu nome: seu cartão de crédito estava em nome de Rosimary Cardoso Cordeiro, assessora parlamentar e antiga aliada da família. O caso é analisado pela Polícia Federal, e o conteúdo das conversas foi exposto pelo Uol.
Além da falta de registros sobre a origem do dinheiro utilizado para arcar com a fatura, chamou atenção da Polícia Federal a resistência de Michelle em criar um cartão em nome próprio. Cid chegou a conversar com suas assessoras para que tentassem convencê-la a abrir mão da terceirização de contas, mas sem sucesso. A polícia desconfia da prática de peculato.
Também chamou atenção a constante preocupação de Cid quanto ao risco de vazamento da informação sobre a forma com que os pagamentos aconteciam. “O Ministério Público, quando pegar isso aí, vai fazer a mesma coisa que fez com o Flávio [Bolsonaro], vai dizer que tem uma assessora de um senador aliado do presidente, que está dando rachadinha, tá dando a parte do dinheiro para Michelle”, disse para uma das assessoras.
O coronel também orientou as assessoras para que guardassem os comprovantes de pagamento em nome próprio, para que não fosse possível “comprovar que esse dinheiro efetivamente sai da conta do presidente”.
O Uol consultou as defesas jurídicas das partes envolvidas no inquérito. O advogado de Mauro Cid alegou que fará a defesa apenas dentro dos autos do processo. As assessorias de Jair e Michelle Bolsonaro já não se pronunciaram.
(Congresso em Foco)
Fonte: pnbonline
Autor: Pedro Pinto de Oliveira - Com Congresso em Foco Isac Nóbrega / PR