Em seu primeiro discurso como presidente eleito em 2022, Luiz Inácio Lula da Silva agradeceu ao povo brasileiro pelo exercício democrático e enfatizou o agradecimento aos seus eleitores, ao dizer que viveu um “processo de ressurreição” na política. Lula falou a apoiadores durante a festa da vitótia, neste domingo (30) à noite, na Avenida Paulista, na região central de São Paulo.
“Graças ao povo brasileiro, a quem eu quero agradecer de coração. O povo que votou em mim, o povo que votou no adversário, quem se dignou a cumprir com seu compromisso civilizatório e de cidadania. Eu quero dar os parabéns. E, sobretudo, quero dar os parabéns às pessoas que votaram em mim, porque eu me considero um cidadão que teve um processo de ressurreição na política brasileira, porque tentaram me enterrar vivo e eu estou aqui", disse ao abrir seu discurso.
Lula fez um apelo pela pacificação política do País. “Estou aqui para governar este país em uma situação muito difícil, mas eu tenho fé em deus que com a ajuda do povo nós vamos encontrar uma saída para que a gente volte a viver democraticamente, harmonicamente e que a gente possa, inclusive, restabelecer a paz entre as famílias, entre os divergentes, para que a gente possa construir o mundo que precisamos”, complementou.
Ele agradeceu ao ex-ministro Fernando Haddad, à sua esposa Rosângela da Silva, a "Janja", à ex-ministra Marina Silva e aos presentes.
Em seguida, o presidente eleito leu o discurso da vitória, em tom estadista, em que a cada frase deu um recado a setores da sociedade civil e à comunidade internacional.
No fim, agradeceu à imprensa e disse que combater a miséria é sua prioridade. “Combater a miséria é a razão pela qual eu vou viver até o fim da minha vida”, concluiu.
Sempre achei que Deus foi muito generoso comigo, para sair de onde eu sai e chegar onde eu cheguei. Sobretudo nesse momento, que não enfrentamos um candidato, enfrentamos a máquina do estado colocada a serviço do candidato da situação.
Considero que tive um processo de ressureição na política brasileira. Tentaram me enterrar vivo, e agora estou aqui, para governar o país. Em uma situação muito difícil, mas tenho certeza que com a ajuda do povo vamos encontrar uma saída e restabelecer a paz.
Chegamos ao final de uma das mais importantes eleições da nossa história. Uma eleição que colocou frente a frente dois projetos opostos de país, e que hoje tem um único e grande vencedor: o povo brasileiro.
Esta não é uma vitória minha, nem do PT, nem dos partidos que me apoiaram nessa campanha. É a vitória de um imenso movimento democrático que se formou, acima dos partidos políticos, dos interesses pessoais e das ideologias, para que a democracia saísse vencedora.
Neste 30 de outubro histórico, a maioria do povo brasileiro deixou bem claro que deseja mais – e não menos democracia.
O povo brasileiro mostrou hoje que deseja mais do que exercer o direito sagrado de escolher quem vai governar a sua vida. Ele quer participar ativamente das decisões do governo.
O povo brasileiro quer viver bem, comer bem, morar bem. Quer um bom emprego, um salário reajustado sempre acima da inflação, quer ter saúde e educação públicas de qualidade. Quer liberdade religiosa. Quer livros em vez de armas. O povo brasileiro quer ter de volta a esperança.
A roda da economia vai voltar a girar com os pobres fazendo parte do orçamento. Com apoio aos pequenos e médios produtores rurais, responsáveis por 70% dos alimentos que chegam às nossas mesas. Com todos os incentivos possíveis aos micros e pequenos empreendedores.
A partir de 1º de janeiro de 2023 vou governar para 215 milhões de brasileiros, e não apenas para aqueles que votaram em mim. Não existem dois Brasis. Somo um único país, um único povo, uma grande nação.
Este país precisa de paz e de união. Esse povo não quer mais brigar. É hora de baixar as armas, que jamais deveriam ter sido empunhadas. Armas matam. E nós escolhemos a vida.
O desafio é imenso. É preciso reconstruir este país em todas as suas dimensões. Na política, na economia, na gestão pública, na harmonia institucional, nas relações internacionais e, sobretudo, no cuidado com os mais necessitados.
É preciso reconstruir a própria alma deste país. Recuperar a generosidade, a solidariedade, o respeito às diferenças e o amor ao próximo. Trazer de volta a alegria de sermos brasileiros, e o orgulho que sempre tivemos do verde-amarelo e da bandeira do nosso país.
Nosso compromisso mais urgente é acabar outra vez com a fome. Não podemos aceitar como normal que milhões de homens, mulheres e crianças neste país não tenham o que comer, ou que consumam menos calorias e proteínas do que o necessário.
O Brasil não pode mais conviver com esse imenso fosso sem fundo, esse muro de concreto e desigualdade que separa o Brasil em partes desiguais que não se reconhecem. Este país precisa se reconhecer. Precisa se reencontrar consigo mesmo.
É preciso retomar o diálogo com o Legislativo e Judiciário. Sem tentativas de exorbitar, intervir, controlar, cooptar, mas buscando reconstruir a convivência harmoniosa e republicana entre os três poderes. A normalidade democrática está consagrada na Constituição.
É mais do que urgente retomar o diálogo entre o povo e o governo. Por isso vamos trazer de volta as conferências nacionais. Para que os interessados elejam suas prioridades, e apresentem ao governo sugestões de políticas públicas para cada área.
Vamos retomar o diálogo com os governadores e os prefeitos, para definirmos juntos as obras prioritárias para cada população. Não interessa o partido. Nosso compromisso será sempre com melhoria de vida da população de cada estado, de cada município deste país.
As grandes decisões políticas que impactem as vidas de 215 milhões de brasileiros não serão tomadas em sigilo, na calada da noite, mas após um amplo diálogo com a sociedade. Acredito que os principais problemas possam ser resolvidos com diálogo, e não com força bruta.
Nas minhas viagens internacionais, o que mais escuto é que o mundo sente saudade do Brasil. Saudade daquele Brasil soberano, que falava de igual para igual com os países mais ricos e poderosos. E que ao mesmo tempo contribuía para o desenvolvimento dos países mais pobres.
Hoje nós estamos dizendo ao mundo que o Brasil está de volta. Que o Brasil é grande demais para ser relegado ao triste papel de pária do mundo. Vamos reconquistar a credibilidade, a previsibilidade e a estabilidade do país, para que os investidores retomem a confiança no Brasil.
Vamos reindustrializar o Brasil, investir na economia verde e digital, apoiar a criatividade dos nossos empresários e empreendedores. Queremos exportar também conhecimento.
O Brasil está pronto para retomar o seu protagonismo na luta contra a crise climática, protegendo todos os nossos biomas, sobretudo a Floresta Amazônica. Em nosso governo, fomos capazes de reduzir em 80% o desmatamento na Amazônia. Agora, vamos lutar pelo desmatamento zero.
Quando uma criança indígena morre assassinada pela ganância dos predadores do meio ambiente, uma parte da humanidade morre junto com ela. Por isso, vamos retomar o monitoramento e a vigilância da Amazônia, e combater toda e qualquer atividade ilegal.
O novo Brasil que iremos construir a partir de 1º de janeiro não interessa apenas ao povo brasileiro, mas a todas as pessoas que trabalham pela paz, a solidariedade e a fraternidade, em qualquer parte do mundo.
Na última quarta-feira, o Papa Francisco enviou uma importante mensagem ao Brasil, orando para que o povo brasileiro fique livre do ódio, da intolerância e da violência. Quero dizer que desejamos o mesmo, e vamos trabalhar sem descanso por um Brasil onde o amor prevaleça.
No que depender de nós, não faltará amor. Vamos cuidar com muito carinho do Brasil e do povo brasileiro. Viveremos um novo tempo. De paz, de amor e de esperança. Um tempo em que o povo brasileiro tenha de novo o direito de sonhar. E as oportunidades para realizar o que sonha".
Fonte: band
Autor: Narley Resende