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29 de Janeiro de 2024

Esquema na SES pegava pacientes na rua só para lotar UTIs na pandemia

Esquema na SES pegava pacientes na rua só para lotar UTIs na pandemia

Num dos momentos mais sombrios de toda história do país e no dia que o estado de Mato Grosso alcançava o ápice em mortes decorrentes da covid-19, com 128 óbitos/dia, os membros do cartel que são alvos da Operação Espelho, reclamavam do lockdown (fechamento dos comércios e isolamento pessoal) e comemoravam a lotação dos leitos destinados à Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs). Com risadas, brincadeiras e ironia, os envolvidos no escândalo comentavam em um grupo do WhatsApp que estavam pegando paciente na rua andando e aceitando paciente sem muito prognóstico para manter os contratos com a Secretaria Estadual de Saúde (SES-MT).

 

A estratégia de enviar pacientes, mesmo sem recomendações para as UTIs, integrava um esquema milionário de desvio de verbas por meio de contratos superfaturados e com direcionamento em licitações que vigorou de 2020 a 2022. Segundo o Ministério Público do Estado (MP-MT), a organização criminosa contava com o aval do alto escalão do governo de Mauro Mendes (União), por meio da secretária-adjunta de Gestão Hospitalar, da SES, Caroline Campos Dobes Conturbia Neves -considerada o braço-direito do secretário Gilberto Figueiredo.

 

Em um dos trechos obtidos com exclusividade pela Gazeta e que está no bojo do aditamento da denúncia oferecida pelo MP-MT, os acusados falavam sobre o assunto com desdém e completo desrespeito. Primeira vez q ocupou 10 leitos na UTI. Peguei paciente na rua andando, disse o Renes Leão Silva médico denunciado na investigação. Em resposta, Bruno Castro de Melo, que é sócio da empresa LB Serviços Médicos LTDA, ao lado de Luiz Gustavo Iglovo (apontado como um dos líderes do esquema), ambos riram da situação.

 

Em um áudio enviado por Renes, o médico defende que é preciso dar fim ao lockdown, pois os casos estavam baixando e se o isolamento não acabar vai ser muito difícil manter a UTI cheia, comentou. Depois disso emendou que o fim do bloqueio deveria movimentar a UTI: Então assim, vai ser difícil manter essa ocupação cheia se não acabar o lockdown. Mas se acabar e o povo começar a cair de moto, beber, cair de telhado, esses rolos aí, aí a gente consegue ocupar mais fácil, o comentário foi seguido por várias risadas dos membros do grupo.

 

À época, o estado seguia numa alta de 25% nos casos de covid-19 e mortes. No dia 5 de abril, data da conversa mencionada, a SES-MT havia notificado, 317.254 casos confirmados, sendo registradas 8.127 mortes em decorrência do coronavírus. Naquela semana, 2.167 novos casos de covid-19 e 128 mortes estavam sendo registradas - o maior número de óbitos desde o início da pandemia naquele momento.

 

Outro Lado

O Estado de Mato Grosso e a Secretaria Estadual de Saúde responderam que não se manifestarão publicamente sobre esse tema e que aguardarão o desfecho no Poder Judiciário.

Fonte: gazetadigital

Autor: Ulisses Lalio Foto Tchélo Figueiredo - SECOM/MT